terça-feira, 23 de agosto de 2011

Destempos

Santo Agostinho dizia que o tempo resultava do movimento de todos os corpos Para Kant, o tempo, apesar de essencial, era destituído da realidade O mundo contemporâneo criou o tempo real. E também a falta de tempo (frases sobre o “tempo”, sem autoria, Google) .

A mostra "Destempos" dá continuidade à reflexão sobre questões relativas ao tempo, que Lenora de Barros vem desenvolvendo desde 2008, através de vídeos, fotografias e som. Segue uma descrição comentada sobre os trabalhos que serão exibidas a partir de 13 de agosto até 17 de setembro na Galeria Laura Marsiaj e no Anexo.

O vídeo "Tempinhos" inaugura a série de vídeos sobre o tempo, foi realizado em 2008. A obra mostra a artista manipulando uma pinça de relojoeiro e ponteiros minúsculos. Esse vídeo busca expressar “horas absurdas, non‐senses, im‐possíveis momentos” dentro da própria linha do tempo de ação da performance. A versão que apresentaremos na exposição será a mesma que mostrada na exposição Paralela, em 2010. Ela é sonorizada com um fragmento de 00:03", tocado em loop, a cada 5'. Esse som foi recortado de conversa entre Haroldo de Campos e Helio Oiticica, no Hotel Chelsea, em NYC, em 1971 (in Heliotapes). Será emitido no ambiente em volume baixo, sutil e "longínquo" ‐ no limite do audível.

Os outros 3 vídeos, "Destempos" (que dá título à exposição), "Extemporâneos" e "Para todo o sempre",  fazem parte das série LUGAR DE SEMPRE e foram realizados posteriormente (2010), usando os mesmos micro ponteiros; mas aqui, a sua movimentação se dá a partir da manipulação de um imã. Uma espécie de “desenho animado” onde os protagonistas são esses ponteiros em movimentação contínua, e em pontos inesperados do campo de ação da performance. Nesse caso, o tempo e a sua forma de movimentação é definido e controlado pela movimentação da pedra de imã sob eles – uma espécie de coreografia, de “dança das horas” se cria, e que inclui o domínio e controle do acaso durante toda a ação performática. As proporções e tamanhos desses ponteiros são incorporadas à próprio processo como elemento de linguagem – ou seja, os mesmos micro ponteiros, filmados em escalas de tamanho diferentes, geram resultados visuais que surpreendem pela diferença entre si, gerando ora um resultado acumulativo e caótico (Para todo sempre), ou um resultado radicalmente oposto, minimal, tal qual em Destempos e/ou Extemporâneos, onde pequenos grupos de ponteiros se movimentam de forma quase imperceptível sobre o fundo branco da tela.

Na instalação áudio‐visuasl "Quanto tempo o tempo tem", que será realizada no Anexo, Lenora propõe ao participante a audição, com headphones, de um texto re‐criado por ela a partir de um travalíngua popular, lembrança das brincadeiras infantis com sua mãe (“O tempo perguntou pro tempo quanto tempo o tempo tem. O tempo respondeu pro tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem.”). A idéia é criar um espaço bastante escuro, um ambiente mais cenográfico, com um foco de luz dirigido do teto para a cadeira de audição. Nesse ambiente, em uma das paredes, também será projetado o vídeo Para todo o sempre.

A idéia aqui, é “conduzir” o ouvinte num percurso áudio‐poético de cunho metalingüístico, que comenta o caráter enigmático do Tempo, e ao mesmo tempo os aspectos de nosso próprio tempo – o momento contemporâneo. A proposta como um todo é inserir o espectador /ouvinte numa atmosfera de lembranças: tempo da memória, tempo mítico, tempo íntimo.

Destempos
abertura: 13 ago > 12 às 16hs
visitação: 16 ago > 17 de set
terça > sexta: 10 às 19hs | sábado: 11 às 16hs

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